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segunda-feira, 14 de abril de 2014

Dislexia - Texto da ABD - Associação Brasileira de Dislexia


DISLEXIA EXISTE?

Sou da opinião de que devemos questionar tudo, mas também sou da opinião de que diante de fatos não há argumentos e que persistir na discussão sinaliza dificuldade para ouvir e rigor intelectual incapacitante.
Os fatos que levam à dislexia são muitos e a forma utilizada para se chegar a eles foram pesquisas científicas rigorosas e sérias, conduzidas por pesquisadores e instituições renomados de todas as partes do mundo.
Sim a dislexia está presente, é reconhecida e estudada em todo o mundo e em todas as línguas e culturas.
A seguir passo a descrever alterações neurobiológicas e funcionais encontradas nas citadas pesquisas.

-Alterações cromossômicas. Como temos várias áreas envolvidas na aprendizagem também são vários os cromossomos com alterações nos casos de dislexia. Os mais citados nos trabalhos consultados são: 1, 2, 3, 6, 7, 17 e 18, provando que a dislexia tem origem poligênica e multifatorial.
-Neurônios do tecido cerebral 20% menores em regiões relacionadas à leitura.
-Lentificação do processamento visual. Justificando a lentificação encontradas entre disléxicos ao realizar a leitura.
-Lentificação do processamento auditivo. Justificando a leitura lenta e trocas de letras, além de explicar o fato de disléxicos ao lerem terem uma tendência a adivinhar a palavra após ler somente o início dela, com a intenção de agilizar o processo.
-Ectopias, que são deslocação ou posição anômala de células no cérebro, em especial em regiões onde se espera o processamento da aprendizagem da leitura e escrita.
-Microgírias ou polimicrogírias, que são malformações em células do cérebro.
-Displasias ou desorganização de neurônios.
-Simetria hemisférica. Menor grau de lateralização. É comum entre disléxicos a lateralidade mista ou cruzada. A leitura eficiente é altamente lateralizada o que é possível observar em ressonância magnética funcional, onde se observa a utilização prioritária do hemisfério esquerdo para atividades de leitura entre leitores sem dificuldade.
-Falha ou demora na aquisição de habilidades cognitivas e ou motoras. Os disléxicos apresentam alguma demora, não considerada significativa ou preocupante pela pediatria, na aquisição da fala, do andar, ao aprender a amarrar cadarços, para recortar e pintar dentro do contorno.
-Menor ativação cerebral nas áreas visuais para processar alvos em movimento.
-Déficits do movimento sacádico e instabilidade binocular, causando visão instável e sobreposição de imagem. É comum o relato de disléxicos mencionando letras que se mexem ao tentarem ler.
-Incapacidade de isolar informações distrativas. Os disléxicos apresentam orientação e focalização da atenção prejudicadas, que são diferentes das dificuldades de atenção encontradas no quadro do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). No caso do disléxico a desatenção é funcional e no caso do TDAH acontece um desequilíbrio químico que pode ser corrigido através de medicação apropriada.
-Dificuldade na representação e evocação dos sons, envolvendo neste caso prejuízo da memória.
-Distribuição da atividade cerebral não habitual durante a leitura, ou seja, utilização de áreas cerebrais de forma diferente entre disléxicos e bons leitores. Entre estes há uma preferência pelo hemisfério esquerdo e entre os primeiros há uma distribuição entre os dois hemisférios e ativação de áreas menores.
-Pobre domínio tátil.
-Déficit cerebelar. O cerebelo é responsável pelo equilíbrio e coordena os movimentos comandados pelo cérebro. Explicaria em parte algumas dificuldades relatadas pelos disléxicos para a prática de esportes coletivos, como o futebol, por exemplo.
-Déficit na percepção de contraste e cor. A utilização de fundos coloridos ou letras coloridas poderiam alterar a eficiência da leitura.
-Quadros alérgicos. A testosterona está diretamente envolvida no crescimento do cérebro e o excesso deste hormônio ou a sensibilidade a ele pode causar ectopias e ação negativa sobre o sistema imunológico. Explicaria ainda o histórico de aborto entre as famílias de disléxicos.
-Déficit no sistema visual magnocelular. Este sistema é importante para a atenção visual, o controle do movimento do olho, a atenção visuespacial e visão periférica. Todas estas funções são de suma importância para a realização da leitura.
-Células do sistema magnocelular do núcleo geniculado lateral 27% menores entre disléxicos, que prejudicariam a eficiência e a velocidade do processamento visual.

Tantas são as alterações tanto neurobiológicas quanto funcionais que se torna difícil, senão impossível, negar a existência de um quadro que leva à dificuldade de leitura, escrita e compreensão da leitura. Agora se este quadro deve ser chamado de dislexia ou não podemos continuar com esta discussão, porém quanto à existência do quadro penso que não há o que se questionar.
Cabe apenas a todos nós profissionais da área da Educação e Saúde trabalharmos em favor de agilizar e facilitar o processo de aprendizagem daqueles que muito sofrem com esta questão, uma vez que este ato deveria ser prazeroso e estimulante para cada um de nós, tanto professores quanto alunos.

Maria Inez Ocanã De Luca
Psicóloga e Neuropsicóloga
Membro do CAE e CTAS - ABD (Centro de Avaliação e
encaminhamento e Centro de Triagem de Atendimento
Social da Associação Brasileira de Dislexia)
Pós-graduada em Aprendizagem com foco em saúde
Mestre em Psicologia da Saúde

Tel/Fax: (11) 3258-7568 / 3231-3296
www.dislexia.org.br

Extraído do site da ABD - Associação Brasileira de Dislexia.


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